domingo, dezembro 30

- FELIZ ANO NOVO -






Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar pra estacionar.
Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos.
Tempo consumido em chopes, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano?
Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz.
Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós.
Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil do que crescer. Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças.
Crescer é a anti-repetição de idéias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos.
Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca. Envelhecer não machuca.
Envelhecer é manso, sereno.
Envelhecer é uma apatia, um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece. O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que se passaram iguais, sabedoria que não se renovou.
Crescer custa, demora, esfola, mas compensa.
É uma vitória secreta, sem testemunhas.
O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor.
*Martha Madeiros*

- A FAXINA -


Estava precisando fazer uma faxina em mim. 
Jogar fora alguns pensamentos indesejados.
Tirar o pó de uns sonhos, lavar alguns desejos que estavam enferrujando. 
Tirei do fundo das gavetas, lembranças que não uso e não quero mais. 
Joguei fora ilusões, papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei. 
Joguei fora a raiva e o rancor nas flores murchas, guardadas num livro que não li. 
Peguei meus sorrisos futuros e alegrias pretendidas e as coloquei num cantinho, bem arrumadinhas. Fiquei sem paciência! Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito, mágoas de uma amiga sem gratidão, lembranças de um dia triste. Mas lá havia outras coisas, belas!!! 
Uma lua cor de prata, os abraços, aquela gargalhada no cinema, o primeiro beijo, o pôr do sol, uma noite de amor . 
Encantada e me distraindo, fiquei olhando aquelas lembranças. 
Sentei no chão, joguei direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou. Peguei as palavras de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima - pois quase não as uso - e também joguei fora! 
Outras coisas que ainda me magoam, coloquei num canto para depois ver o que fazer, se as esqueço ou se vão para o lixo. 
Revirei aquela gaveta onde se guarda tudo de importante: amor, alegria, sorrisos, fé. 
Como foi bom!!! 
Recolhi com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, 
perfumei na esperança, passei um paninho nas minhas metas e deixei-as à mostra. 
Coloquei nas gavetas de baixo lembranças da infância; 
em cima, as de minha juventude, e pendurado bem à minha frente, 
coloquei a minha capacidade de amar e de recomeçar. 
*Martha Medeiros*